Desnutrição infantil no Brasil: avanços, retrocessos e desafios atuais

Entenda como o Brasil reduziu a desnutrição infantil entre 1980 e 2015, e por que esses avanços sofreram retrocessos nos últimos anos.

Do avanço ao retrocesso: a história da desnutrição infantil no Brasil

Na década de 1980, quase 20% das crianças brasileiras com menos de 5 anos tinham baixo peso para a idade. Isso mostrava um cenário de desnutrição preocupante em todo o país. Mas, com o tempo, políticas públicas importantes começaram a mudar essa realidade.

A criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e, mais tarde, o lançamento do programa Fome Zero, em 2003, marcaram o início de uma nova fase no combate à fome. O Brasil passou a investir em programas que uniam transferência de renda, acesso à alimentação escolar e apoio à agricultura familiar.

Um dos maiores destaques foi o Bolsa Família, que ajudou milhões de famílias em situação de pobreza. Com esse programa, mais crianças frequentavam a escola e eram acompanhadas nos serviços de saúde. Isso contribuiu para reduzir mortes causadas pela desnutrição em quase 20% entre 2004 e 2009.

“A desnutrição crônica infantil caiu de 37% em 1974 para 7% em 2006 – uma das maiores reduções do mundo.”(2)

Quando os avanços começaram a parar

Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU. Era um marco importante. Mas logo depois, as melhorias começaram a desacelerar. Em 2017, mais de um terço dos lares brasileiros voltou a enfrentar insegurança alimentar.

O fim de alguns programas e a queda nos investimentos em políticas de alimentação saudável, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), dificultaram ainda mais a vida de quem já enfrentava dificuldades.

A extinção do CONSEA em 2019 também foi uma perda importante. Sem esse conselho, o governo perdeu uma ferramenta fundamental para ouvir a população e criar soluções mais eficazes.

“O fim do CONSEA foi um retrocesso institucional grave e deixou o Brasil menos preparado para lidar com crises alimentares.”(7)

Pandemia e volta da fome: um cenário preocupante

A pandemia de COVID-19 agravou a situação. Com as escolas fechadas, milhões de crianças ficaram sem acesso à merenda escolar — para muitas, a única refeição completa do dia. O desemprego e a redução da renda fizeram com que muitas famílias passassem fome.

Em 2021, mais da metade dos lares brasileiros enfrentava algum grau de insegurança alimentar, e 19 milhões de pessoas estavam em situação de fome grave.

“Famílias precisaram substituir refeições por chás para enganar a fome. Cenas que pareciam superadas voltaram a fazer parte da realidade.”(11)

Em 2022, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, com mais de 10% da população vivendo sem acesso suficiente à alimentação adequada.

O que podemos aprender com essa trajetória?

A história da desnutrição infantil no Brasil mostra que políticas públicas bem planejadas e com apoio contínuo fazem diferença. Mas também mostra que esses avanços podem ser perdidos rapidamente se não forem mantidos.

Para mudar esse cenário, especialistas defendem:

  • Retomar programas sociais como o Bolsa Família;
  • Reativar o CONSEA e outros conselhos de participação popular;
  • Investir na alimentação escolar;
  • Criar políticas integradas que envolvam saúde, educação e agricultura.

Combater a desnutrição infantil exige políticas fortes, continuadas e feitas em conjunto com a sociedade.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • O Brasil já foi referência na redução da desnutrição infantil, graças a políticas públicas integradas e programas de proteção social.
  • A descontinuidade dessas políticas e a crise gerada pela pandemia fizeram a insegurança alimentar voltar a crescer, afetando milhões de crianças.
  • O combate à desnutrição exige investimento contínuo, participação social e ações conjuntas nas áreas de saúde, educação e alimentação.

Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!