Desnutrição infantil no Brasil: quando a comida falta, o cérebro sofre
A desnutrição infantil é mais comum em famílias com baixa renda e pouco acesso à saúde e à educação. Veja como isso afeta o cérebro das crianças e o que pode ser feito.

Desnutrição e desigualdade: qual a ligação?
A desnutrição infantil acontece com mais frequência em famílias que vivem em situação de pobreza. Isso acontece porque fatores como a renda, o nível de escolaridade da mãe, o saneamento básico e o acesso à saúde influenciam diretamente na alimentação da criança.
No Brasil, as crianças que vivem no Norte e no Nordeste têm o dobro de chances de estar desnutridas em comparação com crianças do Sul e Sudeste. Essa diferença mostra como o lugar onde a criança vive pode afetar sua saúde e seu desenvolvimento.
A desnutrição no Brasil tem cor e endereço: atinge mais crianças negras, indígenas, pobres e que vivem em áreas rurais ou periféricas das cidades.
Por que a desnutrição atinge mais os mais pobres?
As famílias com menos dinheiro têm mais dificuldade de comprar alimentos saudáveis e variados. As mães com mais anos de estudo costumam ter mais informações sobre alimentação e cuidados com os filhos. Já a falta de água limpa e esgoto pode causar doenças como diarreia, que dificultam a absorção dos nutrientes dos alimentos.
Além disso, as crianças que vivem em ambientes com muita pobreza enfrentam uma “fome escondida” – elas podem parecer bem nutridas, mas têm falta de vitaminas e minerais importantes para o cérebro.
Insegurança alimentar: quando o alimento não é certo
Quase 4 em cada 10 famílias brasileiras vivem com algum nível de insegurança alimentar – ou seja, não têm garantia de comida todos os dias. No Nordeste, esse número chega a 5 em cada 10. Quando a alimentação da mãe durante a gravidez ou da criança nos primeiros anos é ruim, o risco de problemas de crescimento e aprendizagem aumenta.
A desnutrição pode passar de geração em geração. Mães desnutridas têm mais chances de ter filhos com baixo peso ao nascer e dificuldades na escola.
E a pandemia? A situação piorou?
Sim. Com a pandemia de COVID-19, muitas famílias perderam renda e as escolas fecharam, o que fez milhões de crianças deixarem de receber a merenda escolar. A desnutrição aumentou, principalmente em famílias chefiadas por mulheres, negras e moradores da zona rural.
Mesmo com a economia voltando a crescer, os efeitos da desnutrição durante a pandemia podem durar anos, pois muitas crianças estavam em fases importantes do desenvolvimento do cérebro.
🧬 O que aprendemos hoje?

- A desnutrição infantil está diretamente ligada à pobreza, à falta de acesso a serviços básicos e à desigualdade social.
- Crianças negras, indígenas, pobres e que vivem em regiões mais vulneráveis são as mais afetadas.
- Para combater a desnutrição de forma efetiva, é preciso garantir direitos básicos como renda, educação, saneamento e acesso à saúde e à alimentação saudável.
Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!
📚 Referências Bibliográficas
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