Como a desnutrição pode atrapalhar a vida escolar

A desnutrição crônica pode prejudicar o rendimento escolar e aumentar o risco de evasão. Entenda como isso acontece e o que pode ser feito.

A desnutrição também afeta a escola

A desnutrição crônica pode causar muito mais do que só atraso no crescimento. Quando a criança não recebe os nutrientes que precisa por muito tempo, isso pode afetar o funcionamento do cérebro. Como resultado, ela pode ter dificuldades na escola — não por falta de esforço, mas por conta de problemas causados pela falta de uma alimentação adequada.

Pesquisas mostram que crianças desnutridas tiram notas mais baixas em provas de matemática e linguagem, mesmo quando comparadas a colegas da mesma idade e com famílias em situações parecidas (1).

Um ano perdido nos estudos

Um estudo internacional mostrou que crianças com baixa estatura para a idade — sinal comum de desnutrição crônica — chegam a tirar 38 pontos a menos em provas de matemática. 

Isso representa quase um ano inteiro de atraso escolar (2). No Brasil, em municípios com muitos casos de desnutrição, as escolas tendem a ter notas mais baixas nas provas oficiais, como a Prova Brasil (3).

Maior risco de repetência e abandono

A desnutrição também aumenta as chances de a criança repetir de ano ou sair da escola antes de terminar os estudos. Crianças com esse problema têm mais que o dobro de chance de repetirem o ano (4). Ao final do ensino fundamental, isso pode representar mais de um ano de atraso escolar (5).

Além disso, o risco de abandono escolar é maior. Em municípios com muita insegurança alimentar, a taxa de evasão chega a ser 40% maior do que a média do país (6).

Cada ano de desnutrição na infância pode resultar em quase um ano a menos de estudo na vida adulta.

As matérias mais afetadas

Algumas matérias são mais difíceis para crianças que sofrem com a desnutrição. A matemática, por exemplo, exige mais memória, atenção e raciocínio — habilidades que podem ser prejudicadas pela falta de nutrientes importantes. Por isso, o impacto da desnutrição costuma ser maior nessa disciplina do que em linguagem (7, 8).

Tarefas que envolvem resolver problemas ou pensar de forma mais abstrata também são mais difíceis. Já atividades que exigem apenas repetição ou memorização são menos afetadas (9).

A desnutrição custa caro para o futuro

Os impactos da desnutrição não param na escola. Ao crescer, crianças que tiveram desnutrição na infância podem ganhar menos dinheiro no trabalho e ter menos oportunidades. Cada ano perdido nos estudos pode significar 10% a menos na renda futura (10).

No Brasil, calcula-se que os prejuízos causados pela desnutrição — incluindo os efeitos sobre a educação e o trabalho — representam até 3% de tudo o que o país produz por ano (11).

A boa notícia é que, com ações simples de prevenção e cuidado, é possível mudar esse cenário. Estudos mostram que investir em boa alimentação na infância traz retorno rápido: em apenas um ano, a criança pode melhorar seu desempenho escolar em até 20%, com grande economia para o país (12).

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A desnutrição crônica pode atrasar o aprendizado escolar em até um ano, principalmente em matérias como matemática, que exigem mais atenção e raciocínio.
  • Crianças desnutridas têm maior risco de repetência, abandono escolar e, no futuro, podem ganhar menos e ter menos oportunidades.
  • Investir em boa alimentação na infância melhora o desempenho escolar e gera benefícios duradouros para as crianças e para o país.

Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!

📚 Referências Bibliográficas

  1. Grantham-McGregor S, Ani C. J Nutr. 2001;131(2):649S-668S.
  2. Alderman H, Hoddinott J, Kinsey B. Oxford Economic Papers. 2006;58(3):450-474.
  3. Monteiro CA, Benicio MHD, Konno SC, et al. Rev Saúde Pública. 2009;43(1):35-43.
  4. Martorell R, Horta BL, Adair LS, et al. J Nutr. 2010;140(2):348-354.
  5. Victora CG, Adair L, Fall C, et al. Lancet. 2008;371(9609):340-357.
  6. INEP. Censo Escolar da Educação Básica 2019. Brasília: 2020.
  7. Prado EL, Dewey KG. Nutr Rev. 2014;72(4):267-284.
  8. Sandjaja S, Poh BK, Rojroonwasinkul N, et al. Br J Nutr. 2013;110(S3):S57-S64.
  9. Whaley SE, Sigman M, Neumann C, et al. J Nutr. 2003;133(11):3965S-3971S.
  10. Hoddinott J, Maluccio JA, Behrman JR, et al. Lancet. 2008;371(9610):411-416.
  11. Banco Mundial. Repositioning Nutrition as Central to Development. Washington, DC: 2006.
  12. Galiani S, Gertler P. Economía. 2013;14(1):155-187.