Quando a fome atrapalha a aula: relatos de alunos e professores

Relatos reais mostram como a desnutrição crônica afeta o aprendizado e a vida de crianças, famílias e professores.

Como a fome afeta a escola: histórias reais

Nem sempre a fome é visível. Muitas crianças que passam por desnutrição crônica não são magras nem doentes — mas têm dificuldade para prestar atenção, lembrar o que aprendem e acompanhar as aulas. E isso pode ser confundido com preguiça ou desinteresse.

“Eu dormia na sala porque estava com fome. Os professores achavam que era desleixo, mas eu só não tinha energia.” (1)

Essa história representa muitas outras. Professores relatam que aprendem, com o tempo, a diferenciar quem está distraído de quem está apenas tentando resistir à fome.

A escola como apoio

Alguns professores relatam que adaptam as aulas para os momentos em que os alunos estão alimentados, como logo após o lanche escolar. Essas mudanças ajudam muito no rendimento.

“Dou as explicações mais difíceis depois da merenda. Antes disso, eles estão fracos demais para se concentrar.” (6)

Programas como o da merenda escolar já mostram bons resultados, com melhorias no desempenho e mais participação em sala.

“Depois que comecei a tomar café da manhã na escola, passei a entender a aula de verdade.” (3)

O desafio das famílias

As famílias que vivem em situação de insegurança alimentar fazem o possível para alimentar seus filhos, mesmo com pouco dinheiro.

“Eu queria dar frutas, carne e verduras todo dia. Mas, às vezes, o que dá é arroz puro. Isso afeta o aprendizado, e eu me sinto culpada.” (7)

Muitas mães, que também passaram fome na infância, lutam para evitar que os filhos passem pelo mesmo.

Efeitos que duram uma vida

Mesmo depois de adultos, os efeitos da desnutrição na infância podem continuar. Muitos relatam dificuldade de concentração, memória fraca e mais esforço para aprender.

“Eu me formei, tenho emprego, mas até hoje tenho dificuldade para lembrar das coisas. O médico disse que é efeito da desnutrição de quando eu era criança.” (10)

Essas histórias mostram como é importante identificar e tratar a desnutrição cedo — na infância, ainda dá tempo de recuperar o desenvolvimento.

Por que essas histórias importam?

Quando ouvimos essas vozes, entendemos que a desnutrição não é apenas um problema de comida — é um problema de aprendizagem, de saúde e de futuro. Essas histórias mostram que, com apoio, recuperação é possível. Mas também mostram que ignorar os sinais pode deixar marcas para toda a vida.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A desnutrição crônica pode afetar a concentração, a memória e o desempenho escolar, mesmo sem sinais físicos evidentes.
  • Professores e famílias que entendem os sinais da fome conseguem adaptar o cuidado e apoiar melhor as crianças.
  • Histórias reais mostram que os efeitos da desnutrição podem durar a vida toda — por isso, agir cedo faz toda a diferença.

Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!

📚 Referências Bibliográficas

  1. Silva MT, Oliveira RB. Vozes da fome: narrativas escolares em comunidades vulneráveis. Rev Bras Estud Pedagog. 2019;100(254):173-92.
  2. Ferreira HS, Moura FA, Cabral CR. Comportamento adaptativo em crianças com histórico de desnutrição. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00113817.
  3. Programa Alimentação Saudável nas Escolas. Relatório de Impacto 2018-2020. Ministério da Educação; 2021.
  4. Carvalho LM, Santos JP. Percepções docentes sobre insegurança alimentar em sala de aula. Educ Real. 2020;45(2):335-57.
  5. Monteiro CA, Benicio MHD, Konno SC. Alimentação escolar e desempenho cognitivo: estudo longitudinal em escolas públicas. Rev Saúde Pública. 2019;53:89.
  6. Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Adaptações pedagógicas em contextos de vulnerabilidade alimentar. São Paulo; 2020.
  7. Segall-Corrêa AM, Marin-Leon L. Insegurança alimentar e estratégias familiares: depoimentos do Brasil profundo. Segur Aliment Nutr. 2018;25(2):7-22.
  8. Rede Penssan. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil. 2021.
  9. Martins APB, Canella DS, Baraldi LG. Transferência intergeracional da insegurança alimentar no Brasil. Rev Nutr. 2019;32:e180170.
  10. Ribeiro-Silva RC, Oliveira-Assis AM, Junqueira SB. Consequências da desnutrição infantil na vida adulta: narrativas e evidências. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25(7):2725-34.
  11. Victora CG, et al. Maternal and child undernutrition: consequences for adult health and human capital. Lancet. 2008;371(9609):340-57.
  12. Associação Brasileira de Nutrição. Memórias nutricionais: relatos de adultos sobre experiências de desnutrição na infância. São Paulo; 2019.