Asma Infantil e Mudanças Climáticas: Por que esse tema é tão pouco falado?

A relação entre mudanças climáticas e asma infantil é pouco abordada. Entenda os impactos dessa omissão na saúde das crianças.

O Silêncio Midiático Sobre a Conexão Clima-Asma

Apesar da crescente evidência científica conectando mudanças climáticas à saúde respiratória infantil, existe um surpreendente silêncio na comunicação pública sobre este tema. 

Uma análise de conteúdo de grandes veículos de mídia brasileiros revelou que menos de 4% das reportagens sobre asma infantil mencionam fatores climáticos como influenciadores relevantes (1). Quando a asma é abordada, o foco predominante recai sobre tratamentos medicamentosos e gatilhos domésticos, com pouca ou nenhuma menção às mudanças ambientais de larga escala.

Este padrão se repete internacionalmente. Um estudo que examinou a cobertura de saúde em cinco países identificou que, quando conexões entre clima e saúde são discutidas, são quatro vezes mais propensas a focar em doenças relacionadas ao calor ou doenças infecciosas do que em condições respiratórias crônicas (2).

“A desconexão entre o que sabemos cientificamente e o que comunicamos publicamente sobre asma infantil e clima representa uma das mais significativas lacunas na comunicação de saúde contemporânea.” (3)

Materiais Educativos: O Elo Perdido

A análise de materiais educativos sobre asma infantil revela outra dimensão do problema. Uma revisão de 45 materiais de orientação para pacientes distribuídos por hospitais e clínicas brasileiras mostrou que apenas 8% mencionavam mudanças climáticas ou poluição atmosférica como fatores relevantes para o manejo da asma (4).

“Estamos preparando famílias para lidar com gatilhos tradicionais da asma, mas deixando-as despreparadas para os novos desafios impostos pelas mudanças climáticas.” (5)

Barreiras para a Comunicação Efetiva

Múltiplos fatores contribuem para esta lacuna comunicacional. Primeiramente, a complexidade científica das interações entre clima, poluentes, alérgenos e sistema respiratório representa um desafio significativo para comunicadores de saúde.

Adicionalmente, a polarização política em torno das questões climáticas constitui outra barreira significativa. Profissionais de saúde frequentemente relatam hesitação em abordar fatores climáticos por receio de alienar pacientes ou parecerem politicamente tendenciosos (6).

Modelos Promissores: Aprendendo com Experiências Internacionais

Na Austrália, após eventos severos de “tempestades de asma” relacionados a mudanças climáticas, foi implementado um sistema integrado de comunicação que conecta dados ambientais a alertas de saúde respiratória (8).

Na Finlândia, materiais educativos sobre asma infantil rotineiramente incorporam informações sobre como as estações prolongadas de pólen e invernos mais curtos (consequências das mudanças climáticas) afetam o manejo da condição (9).

Caminhos para Preencher o Vazio Comunicacional

Para superar estas lacunas, são necessárias intervenções em múltiplos níveis. Jornalistas e comunicadores de saúde precisam de treinamento específico sobre as interseções entre clima e saúde respiratória. Organizações médicas podem desenvolver materiais educativos que integrem naturalmente informações climáticas às orientações sobre asma.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A conexão entre mudanças climáticas e asma infantil ainda é amplamente negligenciada na mídia e em materiais educativos, criando uma lacuna crítica na comunicação em saúde.
  • Fatores como a complexidade científica e a polarização política dificultam a abordagem do tema por profissionais de saúde e comunicadores.
  • Experiências internacionais mostram que é possível integrar informações sobre clima ao manejo da asma, e que comunicar esses riscos de forma clara e acessível é essencial para preparar melhor as famílias e proteger a saúde das crianças.

Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!

📚 Referências Bibliográficas

  1. Carvalho M, Santos P. Rev Bras Mídia Saúde. 2021;16(3):78-92.
  2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Pesquisa nacional sobre práticas comunicativas em saúde ambiental. Rio de Janeiro: SBP; 2022.
  3. Davies JM, et al. J Allergy Clin Immunol Pract. 2021;9(4):1532-1538.