Diagnóstico das Alergias Alimentares: Métodos e Abordagens Atuais

Conheça os métodos diagnósticos mais eficazes para identificar alergias alimentares em crianças e adultos. Da anamnese ao teste de provocação oral, saiba como diagnosticar com precisão.

Diagnosticar alergias alimentares com precisão exige mais do que observar os sintomas: requer uma combinação criteriosa entre história clínica detalhada e exames específicos. Como os sinais podem ser inespecíficos, é essencial adotar uma abordagem sistemática para evitar diagnósticos equivocados e condutas desnecessárias.

Fundamentos do Diagnóstico e Abordagem Inicial

O diagnóstico preciso das alergias alimentares representa um desafio clínico significativo, exigindo uma abordagem sistemática e multifacetada. A história clínica detalhada permanece como pedra angular do processo diagnóstico, sendo essencial para direcionar a investigação subsequente (1)

Durante a anamnese, devem ser explorados aspectos como tempo entre a ingestão do alimento e o início dos sintomas, quantidade necessária para desencadear reações, reprodutibilidade dos sintomas e fatores cofatores que possam potencializar as reações.

“A história clínica isolada, embora fundamental, apresenta valor preditivo positivo de apenas 50-60%, tornando necessária a confirmação por testes objetivos para estabelecer um diagnóstico definitivo de alergia alimentar.” (2)

Testes Cutâneos e Laboratoriais

Os testes cutâneos de puntura (SPT) constituem uma ferramenta diagnóstica de primeira linha, oferecendo resultados rápidos e de baixo custo. Apresentam alta sensibilidade (>90%) para alergias IgE-mediadas, porém especificidade moderada (50-70%). A determinação de IgE específica sérica complementa a avaliação, oferecendo quantificação precisa de anticorpos IgE específicos contra diversos alérgenos alimentares (4).

“O diagnóstico molecular ou diagnóstico por componentes (CRD) revolucionou a abordagem diagnóstica ao permitir a identificação de sensibilização a proteínas específicas, diferenciando entre sensibilização primária e reatividade cruzada, além de estimar o risco de reações sistêmicas graves.” (6)

Testes de Provocação Oral e Novas Tecnologias

O teste de provocação oral (TPO) permanece como padrão-ouro no diagnóstico de alergias alimentares. Pode ser realizado de forma aberta, simples-cego ou duplo-cego controlado por placebo (DCCP), sendo este último o método de maior rigor científico (8).

“O teste de provocação oral duplo-cego controlado por placebo é o único método que definitivamente confirma ou exclui o diagnóstico de alergia alimentar, com acurácia diagnóstica próxima a 100%.” (9)

Controvérsias Diagnósticas e Algoritmos Clínicos

Diversos métodos diagnósticos não convencionais têm sido promovidos para identificação de alergias alimentares, incluindo dosagem de IgG específica, eletroacupuntura e bioressonância. No entanto, sociedades médicas internacionais são unânimes em afirmar que tais métodos carecem de validação científica (12).

“A dosagem de anticorpos IgG contra alimentos não tem valor diagnóstico em alergias alimentares. Seu uso inadequado tem levado a dietas de exclusão desnecessárias e potencialmente prejudiciais.” (13)

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A história clínica detalhada é fundamental no diagnóstico de alergias alimentares, mas precisa ser complementada por testes objetivos devido à sua baixa especificidade.
  • Testes cutâneos, dosagem de IgE específica e diagnóstico molecular ajudam a identificar sensibilizações e estimar o risco de reações graves.
  • O teste de provocação oral duplo-cego é o padrão-ouro, enquanto métodos não validados, como IgG alimentar e bioressonância, não devem ser utilizados por falta de base científica.

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📚 Referências Bibliográficas

  1. Muraro A, Werfel T, Hoffmann-Sommergruber K, et al. EAACI food allergy and anaphylaxis guidelines: diagnosis and management of food allergy. Allergy. 2014;69(8):1008-25.
  2. Sampson HA, Aceves S, Bock SA, et al. Food allergy: a practice parameter update-2014. J Allergy Clin Immunol. 2014;134(5):1016-25.
  3. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(Supl 1):S1-S38.
  4. Heinzerling L, Mari A, Bergmann KC, et al. The skin prick test – European standards. Clin Transl Allergy. 2013;3(1):3.
  5. Matricardi PM, Kleine-Tebbe J, Hoffmann HJ, et al. EAACI Molecular Allergology User’s Guide. Pediatr Allergy Immunol. 2016;27(Suppl 23):1-250.
  6. Santos AF, Lack G. Food allergy and anaphylaxis in pediatrics: update 2010-2012. Pediatr Allergy Immunol. 2012;23(8):698-706.
  7. Valenta R, Hochwallner H, Linhart B, Pahr S. Food allergies: the basics. Gastroenterology. 2015;148(6):1120-31.
  8. Bindslev-Jensen C, Ballmer-Weber BK, Bengtsson U, et al. Standardization of food challenges in patients with immediate reactions to foods–position paper from the European Academy of Allergology and Clinical Immunology. Allergy. 2004;59(7):690-7.
  9. Nowak-Węgrzyn A, Chehade M, Groetch ME, et al. International consensus guidelines for the diagnosis and management of food protein-induced enterocolitis syndrome. J Allergy Clin Immunol. 2017;139(4):1111-26.
  10. Solé D, Silva LR, Rosário Filho NA, Sarni ROS. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 – Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.
  11. Santos AF, Shreffler WG. Road map for the clinical application of the basophil activation test in food allergy. Clin Exp Allergy. 2017;47(9):1115-24.
  12. Carr S, Chan E, Lavine E, Moote W. CSACI Position statement on the testing of food-specific IgG. Allergy Asthma Clin Immunol. 2012;8(1):12.
  13. Bock SA. AAAAI support of the EAACI Position Paper on IgG4 testing. J Allergy Clin Immunol. 2010;125(6):1410.