Novas Terapias para Alergias Alimentares: Imunoterapia e Outras Abordagens

Descubra as terapias emergentes para alergias alimentares, incluindo imunoterapia oral, biológicos e modulação da microbiota.

Por décadas, o manejo das alergias alimentares baseava-se na evitação rigorosa dos alérgenos e no tratamento emergencial das reações. No entanto, novas terapias têm surgido com o objetivo de modificar a resposta imunológica e induzir tolerância alimentar.

Imunoterapias Específicas: Da Evitação à Dessensibilização

A imunoterapia específica representa um marco no tratamento das alergias alimentares. A abordagem envolve a exposição controlada ao alérgeno em doses progressivas, visando à dessensibilização do sistema imunológico (1).

  • Imunoterapia Oral (OIT): Consiste na ingestão gradual do alimento alergênico. Estudos mostram que 60-80% dos pacientes que realizam OIT para amendoim, leite ou ovo conseguem tolerar quantidades maiores após o tratamento (2).
  • Imunoterapia Sublingual (SLIT): Aplicação de doses mínimas do alérgeno sob a língua. Menor risco de reações adversas, mas menor eficácia que a OIT (3).
  • Imunoterapia Epicutânea (EPIT): Adesivos contendo o alérgeno são aplicados sobre a pele. Estudos mostram eficácia moderada, mas segurança elevada (4).

Em 2020, o FDA aprovou o Palforzia®, primeiro produto de OIT para alergia ao amendoim em crianças de 4 a 17 anos. No Brasil, a imunoterapia oral ainda não é regulamentada, sendo realizada apenas em centros especializados (5).

Terapias Biológicas: Alvo na Resposta Imunológica

A medicina de precisão tem possibilitado o desenvolvimento de terapias biológicas direcionadas, focadas em alvos específicos da resposta alérgica.

  • Omalizumabe (anti-IgE): Inicialmente aprovado para asma, mostrou eficácia na redução das reações durante a OIT (6).
  • Dupilumabe (anti-IL-4/IL-13): Atua na inflamação alérgica e está em estudos para alergias alimentares (7).
  • Mepolizumabe (anti-IL-5): Reduz a inflamação eosinofílica, particularmente em pacientes com gastroenterite eosinofílica (8).

👉 A combinação de imunoterapia e biológicos pode potencializar os efeitos da dessensibilização, permitindo protocolos mais rápidos e seguros.

Modulação da Microbiota e Intervenções Nutricionais

A microbiota intestinal desempenha um papel central na modulação da resposta imunológica. Estudos recentes apontam para a administração de probióticos como adjuvantes na imunoterapia.

  • Lactobacillus rhamnosus: Associado à OIT para amendoim, resultou em 80% de dessensibilização sustentada após quatro anos de tratamento (9).
  • Bifidobacterium spp.: Estimulam células T reguladoras, promovendo tolerância oral (10).
  • Prebióticos: Fibra alimentar e oligossacarídeos do leite humano (HMOs) estão em estudo por seu potencial imunomodulador.

Entretanto, a heterogeneidade dos estudos e a variabilidade das cepas utilizadas ainda limitam a aplicação clínica padronizada (11).

Perspectivas Futuras: Vacinas e Terapias Gênicas

Pesquisas emergentes apontam para abordagens inovadoras:

  • Vacinas de DNA: Indução de tolerância sem exposição direta ao alérgeno. Estudos em fase pré-clínica mostram resultados promissores (12).
  • Terapias com Células Dendríticas: Modificação da resposta imune por meio da apresentação de alérgenos de forma controlada (13).
  • Edição Gênica: Uso da tecnologia CRISPR para reprogramar a resposta imunológica, com potencial para criar tolerância permanente (14).

👉 Embora ainda em fases iniciais, essas terapias podem transformar o tratamento das alergias alimentares, reduzindo a necessidade de exposição contínua ao alérgeno.

Realidade no Brasil e Barreiras ao Acesso

No Brasil, o acesso a terapias emergentes é limitado. Nenhum produto de imunoterapia alimentar possui registro na ANVISA, e os biológicos disponíveis não têm indicação formal para alergias alimentares (15).

Principais desafios:

  • Custos elevados: Biológicos e imunoterapias apresentam preços proibitivos para a maioria da população.
  • Falta de infraestrutura: Centros especializados e profissionais capacitados são escassos.
  • Descompasso regulatório: A aprovação de terapias emergentes é lenta e burocrática.

Iniciativas recentes, como a criação de centros de referência em alergias alimentares e a inclusão do tema em programas de residência médica, representam avanços, mas são ainda incipientes (16).

👉 O acesso equitativo às novas terapias para alergias alimentares no Brasil depende de uma articulação entre pesquisa, regulação e políticas de saúde pública.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • Novas terapias como imunoterapia oral, sublingual e epicutânea estão mudando o paradigma do tratamento das alergias alimentares, com foco na dessensibilização e indução de tolerância.
  • Terapias biológicas e a modulação da microbiota vêm sendo testadas como adjuvantes promissores, ampliando a segurança e a eficácia das imunoterapias.
  • Apesar dos avanços internacionais, o Brasil ainda enfrenta barreiras regulatórias, estruturais e econômicas para oferecer essas inovações de forma ampla e equitativa.

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📚 Referências Bibliográficas

  1. Anvari S, Anagnostou A. The Nuts and Bolts of Food Immunotherapy. Children. 2018;5(4):47.
  2. Pajno GB, Fernandez-Rivas M, Arasi S, et al. EAACI Guidelines on Allergen Immunotherapy. Allergy. 2018;73(4):799-815.
  3. Wood RA. Food Allergen Immunotherapy: Current Status and Future Prospects. J Allergy Clin Immunol. 2016;137(4):973-982.
  4. Vickery BP, Vereda A, Casale TB, et al. AR101 Oral Immunotherapy for Peanut Allergy. N Engl J Med. 2018;379(21):1991-2001.
  5. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Guia prático de diagnóstico e tratamento de alergia alimentar. Rev Bras Alerg Imunopatol. 2018;42(1):23-41.
  6. MacGinnitie AJ, Rachid R, Gragg H, et al. Omalizumab and Peanut Immunotherapy. J Allergy Clin Immunol. 2017;139(3):873-881.
  7. Abdel-Gadir A, Schneider L, Casini A, et al. Precision Medicine in Food Allergy. J Allergy Clin Immunol Pract. 2018;6(6):1830-1839.
  8. Tang MLK, Ponsonby AL, Orsini F, et al. Probiotics and Peanut Immunotherapy: A Randomized Trial. J Allergy Clin Immunol. 2015;135(3):737-744.
  9. Feehley T, Plunkett CH, Bao R, et al. Microbiota and Food Allergy. Nat Med. 2019;25(3):448-453.
  10. Chinthrajah RS, Hernandez JD, Boyd SD, et al. Mechanisms of Food Allergy. J Allergy Clin Immunol. 2016;137(4):984-997.
  11. Solé D, Silva LR, Cocco RR, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):39-82.