Alergias Alimentares em Crianças no Brasil: Prevalência e Tendências
Alergias alimentares crescem no Brasil e no mundo. Veja os fatores de risco, variações regionais e os grupos mais vulneráveis.

As alergias alimentares estão se tornando mais comuns em todo o mundo, especialmente entre crianças. No Brasil, embora os dados ainda sejam limitados, observa-se um crescimento constante nos diagnósticos e uma forte influência de fatores regionais, ambientais e comportamentais. Entender essas tendências é essencial para orientar ações de prevenção e manejo.
Prevalência Global e Brasileira das Alergias Alimentares
As alergias alimentares estão em ascensão globalmente, impactando milhões de crianças e suas famílias. Estudos recentes indicam que a prevalência global de alergias alimentares varia entre 6-8% em crianças e 2-3% em adultos, com taxas significativamente mais altas em países desenvolvidos (1).
No Brasil, a ausência de estudos populacionais abrangentes dificulta a estimativa precisa, mas a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) sugere que aproximadamente 5% das crianças e 2% dos adultos brasileiros sofrem de algum tipo de alergia alimentar (2).
“O cenário brasileiro é marcado pela subnotificação de casos, especialmente em regiões com acesso limitado a especialistas e métodos diagnósticos avançados” (3).
Estudos realizados em centros urbanos como São Paulo, Porto Alegre e Salvador indicam taxas mais elevadas que a média nacional, sugerindo influência de fatores ambientais e socioeconômicos na prevalência das alergias alimentares (4).
Aumento da Incidência: Hipóteses e Evidências
Diversos estudos internacionais documentam um aumento expressivo na incidência de alergias alimentares nas últimas três décadas. Nos Estados Unidos, a prevalência de alergia ao amendoim, por exemplo, triplicou entre 1997 e 2008 (5).
No Brasil, embora faltem estudos longitudinais robustos, dados de serviços especializados indicam um crescimento constante nos diagnósticos de alergias alimentares, especialmente em crianças menores de cinco anos.
Hipóteses para o Aumento das Alergias Alimentares:
- Hipótese da Higiene: A redução da exposição a microrganismos na infância pode predispor o sistema imunológico a respostas alérgicas (6).
- Mudanças Alimentares: O atraso na introdução de alimentos alergênicos, como ovo e amendoim, pode estar relacionado ao aumento da sensibilização alimentar (7).
- Microbiota Intestinal: Alterações na composição da microbiota, influenciadas pelo parto cesáreo e pelo uso precoce de antibióticos, podem predispor ao desenvolvimento de alergias (8).
- Poluição e Exposição Ambiental: A exposição a poluentes e produtos químicos também tem sido apontada como potencial gatilho para o desenvolvimento de alergias alimentares (9).
“O aumento das alergias alimentares é um reflexo das mudanças ambientais, alimentares e comportamentais das últimas décadas, criando um cenário complexo que exige abordagem multidisciplinar.” (10)
Variações Regionais e Fatores de Risco no Brasil
A prevalência de alergias alimentares no Brasil varia significativamente entre as regiões. Estudos preliminares sugerem maior prevalência no Sul e Sudeste, áreas com maior industrialização e poluição atmosférica, enquanto o Norte e Nordeste apresentam taxas relativamente mais baixas (11).
Perfil Etário:
- Em crianças menores de 5 anos, as alergias mais comuns incluem leite de vaca, ovo e trigo.
- Em adolescentes, as alergias a amendoim, nozes e frutos do mar tornam-se mais frequentes (12).
Fatores de Risco:
- Histórico Familiar: Crianças com histórico familiar de atopia têm risco até cinco vezes maior de desenvolver alergias alimentares (13).
- Parto Cesáreo: Associado a um microbioma intestinal menos diversificado, aumentando a suscetibilidade a alergias (14).
- Uso de Antibióticos: A exposição precoce a antibióticos pode alterar a microbiota intestinal, predispondo a respostas alérgicas (15).
- Deficiência de Vitamina D: Evidências sugerem que a deficiência de vitamina D pode estar associada a maior risco de alergias alimentares (16).
“No Brasil, a combinação de fatores genéticos e ambientais cria um panorama epidemiológico único, caracterizado pela coexistência de alergias alimentares típicas de países desenvolvidos e de regiões em desenvolvimento.” (17)
🧬 O que aprendemos hoje?
- As alergias alimentares estão aumentando globalmente e no Brasil, com maior prevalência em crianças e variações regionais associadas a fatores socioambientais.
- Hipóteses para esse crescimento incluem a hipótese da higiene, alterações na microbiota intestinal, mudanças nos padrões alimentares e exposição a poluentes.
- No Brasil, fatores como histórico familiar, parto cesáreo, uso precoce de antibióticos e deficiência de vitamina D influenciam o risco, e as alergias mais comuns variam conforme a faixa etária.
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📚 Referências Bibliográficas
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- Solé D, Silva LR, Rosário Filho NA, Sarni ROS. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 – Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):7-38.
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