Desnutrição em Crianças: o que observar em cada fase da infância
Descubra os sinais de desnutrição em cada fase da infância e saiba como fazer o acompanhamento correto pelo SUS.

Um problema que afeta diversas faixas etárias
A desnutrição infantil ainda é um grande desafio no Brasil. Ela pode afetar crianças de formas diferentes, dependendo da idade. Por isso, é importante saber o que observar em cada fase da infância para agir o quanto antes e evitar problemas no desenvolvimento.
Desnutrição em Crianças: sinais específicos por idade
Dados recentes mostram que 7% das crianças brasileiras menores de 5 anos têm baixa estatura para a idade — sinal de desnutrição crônica. Esse número é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste.
Lactentes (0 a 2 anos)
Nos bebês, alguns sinais são:
- bochechas e nádegas mais “murchas”;
- pele seca e com aparência de enrugada;
- moleira afundada;
- irritabilidade ou apatia (falta de interesse).
Quando a criança perde peso rapidamente, sem mudar o comprimento, pode estar com desnutrição aguda. Já a baixa estatura indica desnutrição crônica, ou seja, um problema que vem de muito tempo.
A desnutrição nos primeiros 2 anos pode causar problemas no cérebro que duram a vida toda, mesmo que a criança melhore depois.
Pré-escolares (2 a 5 anos)
Nessa idade, os sinais podem ser:
- cabelos quebradiços, fracos ou com cor diferente;
- unhas frágeis ou em formato de colher;
- atraso para nascer os dentes;
- barriga inchada, mesmo com corpo magro;
- pouca força muscular nos braços e pernas.
Em muitos casos, a criança não tem sinais visíveis. Por isso, é essencial acompanhar o peso e o crescimento com frequência.
Escolares (6 a 10 anos)
Com o crescimento mais lento, os sinais podem ser confundidos com “biotipo da criança”. Mas é preciso atenção se houver:
- estatura muito abaixo da média da turma;
- atraso na puberdade;
- dificuldade para aprender;
- cansaço frequente e falta de concentração.
Crianças com desnutrição têm 15 a 20% menos capacidade de aprender em comparação com crianças bem nutridas.
Como ler as curvas de crescimento
As curvas de crescimento são usadas nas consultas de rotina para verificar se a criança está se desenvolvendo bem. É importante observar:
- Se a curva do peso ou da altura “desce” ou fica parada por muito tempo.
- Se há mudança de dois ou mais canais da curva (isso já é um sinal de alerta).
- Se a criança parou de ganhar peso por dois meses seguidos.
O crescimento é um dos primeiros sinais que mostram que a nutrição da criança pode estar com problema — mesmo antes de aparecerem outros sintomas.
Usar só o IMC pode não mostrar toda a situação. A criança pode ter peso considerado “normal”, mas estar com falta de ferro, zinco ou outras vitaminas.
Efeitos no desenvolvimento e na escola
A desnutrição pode afetar:
- o controle da cabeça, sentar ou engatinhar (nos bebês);
- a fala, a coordenação e o comportamento (nas crianças maiores);
- a memória, a atenção e a aprendizagem (em idade escolar).
Estudos mostram que a desnutrição nos primeiros anos está ligada a notas mais baixas e mais chances de repetir de ano.
Mesmo crianças com peso adequado podem ter o que chamamos de “fome oculta”: falta de nutrientes importantes que atrapalha o desempenho na escola.
Acompanhamento pelo SUS
O SUS oferece avaliação nutricional gratuita para todas as crianças. Veja como funciona:
Faixa etária | Frequência recomendada |
0 a 6 meses | Todo mês |
6 meses a 1 ano | A cada 2 meses |
1 a 2 anos | A cada 3 meses |
2 a 5 anos | A cada 6 meses |
O principal instrumento é a Caderneta de Saúde da Criança, que traz gráficos para acompanhar peso, altura e crescimento. Os dados também são registrados no SISVAN, o sistema que ajuda a planejar as ações de saúde e alimentação no Brasil.
Se houver sinais de desnutrição, a criança pode ser encaminhada para acompanhamento com nutricionista, pediatra e outros profissionais. O cuidado deve ser feito em equipe.
🧬 O que aprendemos hoje?

- A desnutrição infantil pode afetar bebês, pré-escolares e escolares de formas diferentes — por isso, é essencial saber o que observar em cada fase.
- Mesmo sem sinais visíveis, curvas de crescimento e avaliações frequentes ajudam a identificar o problema cedo.
- O acompanhamento regular pelo SUS e o trabalho de profissionais em equipe são fundamentais para proteger o desenvolvimento da criança.
Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!
📚 Referências Bibliográficas
- Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher. Brasília: MS; 2020.
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