Quando a desnutrição não é visível: o que é fome oculta?

Crianças com peso normal também podem estar desnutridas. Conheça os sinais da “fome oculta” e entenda como ela afeta o aprendizado.

O que é desnutrição oculta?

Nem toda criança desnutrida parece estar doente. A chamada desnutrição oculta, ou “fome invisível”, acontece quando o corpo recebe calorias suficientes, mas não os nutrientes essenciais para crescer e se desenvolver bem.

No Brasil, cerca de 1 em cada 3 crianças em idade escolar tem alguma deficiência nutricional, mesmo comendo todos os dias (1, 2). Isso pode afetar o cérebro, o aprendizado e o comportamento — mesmo que a criança tenha peso normal ou esteja acima do peso.

A desnutrição oculta é silenciosa e muitas vezes passa despercebida, mas seus efeitos são profundos.

Os nutrientes que fazem falta

Alguns nutrientes são fundamentais para que o cérebro funcione bem. Os mais importantes nessa fase da vida são:

  • Ferro: essencial para o transporte de oxigênio e para o raciocínio.
  • Zinco: importante para a memória e o foco.
  • Iodo: necessário para o desenvolvimento cerebral.
  • Vitaminas A, B12 e ácido fólico: atuam na visão, comunicação entre os neurônios e aprendizado (3).

Mesmo uma pequena falta desses nutrientes pode causar dificuldades para se concentrar, lembrar das coisas ou acompanhar as aulas.

Anemia: um problema comum, mas invisível

A anemia ferropriva é uma das formas mais comuns de desnutrição oculta. Estima-se que 20% das crianças brasileiras em idade escolar tenham esse problema (4). Os sinais são sutis: cansaço, palidez, sono em excesso ou desinteresse — tudo isso pode parecer preguiça, mas pode ser falta de ferro (5, 6).

Crianças com anemia ferropriva tiram notas mais baixas, têm mais dificuldade de concentração e rendimento escolar mais baixo (7). O pior é que muitos casos não são identificados a tempo, porque os sintomas não são óbvios.

Quando calorias não bastam

Hoje, é comum ver crianças comendo muito, mas se alimentando mal. Isso acontece por causa do consumo de alimentos ultraprocessados: bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes e fast food. São comidas cheias de calorias, mas pobres em nutrientes (8).

Sim, é possível estar com sobrepeso e desnutrido ao mesmo tempo.

Esses alimentos não só deixam de fornecer o que o corpo precisa, como também podem atrapalhar o funcionamento do cérebro e causar problemas de atenção, memória e humor (9, 10).

Embora o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) ajude muito, ele ainda enfrenta dificuldades para garantir uma alimentação realmente nutritiva em todas as escolas do país (11).

Como identificar esse tipo de desnutrição?

Na escola, é possível adotar estratégias simples para descobrir se uma criança está com desnutrição oculta. Alguns exemplos são:

  • Questionários alimentares simples com os responsáveis;
  • Observar sinais como cansaço excessivo, distração, irritabilidade ou queda nas notas;
  • Testes básicos de atenção e memória;
  • Parcerias com postos de saúde para exames quando necessário (12, 13).

Estudos mostram que, com essas medidas, é possível detectar até 40% mais casos de deficiências nutricionais do que apenas medindo o peso e a altura (14).

Os educadores também podem ficar atentos a sinais como:

  • Palidez nas mucosas (boca e pálpebras);
  • Irritabilidade sem motivo aparente;
  • Dificuldade de concentração;
  • Sono excessivo;
  • Queda de desempenho escolar sem explicação clara (15).

Quando detectada a tempo, a desnutrição oculta pode ser tratada com orientações simples e suplementos específicos, trazendo grandes ganhos para o aprendizado.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A desnutrição oculta afeta 1 em cada 3 crianças em idade escolar no Brasil, mesmo entre aquelas com peso normal ou sobrepeso.
  • A falta de nutrientes como ferro, zinco e iodo pode prejudicar a memória, a atenção e o desempenho escolar — mesmo sem sinais visíveis.
  • Com atenção dos educadores, questionários simples e parcerias com a saúde, é possível identificar e tratar precocemente esse tipo de desnutrição.

Aqui no Clube da Saúde Infantil, acreditamos: crescer com saúde é mais legal!

📚 Referências Bibliográficas

  1. WHO. The double burden of malnutrition. 2017.
  2. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde. 2020.
  3. Prado EL, Dewey KG. Nutr Rev. 2014;72(4):267-84.
  4. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. 2019.
  5. Lozoff B, Jimenez E, Smith JB. Arch Pediatr Adolesc Med. 2006;160(11):1108-13.
  6. Falkingham M et al. Nutr J. 2010;9:4.
  7. Grantham-McGregor S, Ani C. J Nutr. 2001;131(2):649S-68S.
  8. Monteiro CA et al. Public Health Nutr. 2018;21(1):5-17.
  9. Jacka FN et al. BMC Med. 2015;13:215.
  10. Adjibade M et al. BMC Med. 2019;17(1):78.
  11. FNDE. Relatório de Gestão do PNAE. 2021.
  12. Best C et al. Nutr Rev. 2011;69(4):186-204.
  13. SBP. Consenso sobre anemia ferropriva. 2018.
  14. Vasconcelos FAG, Batista Filho M. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(1):81-90.
  15. Benton D. Eur J Nutr. 2008;47(Suppl 3):38-50.