Prevenção de Alergias Alimentares: O Papel da Introdução Alimentar e da Amamentação

Saiba como a introdução alimentar precoce e a amamentação influenciam a prevenção de alergias alimentares e descubra as melhores práticas para bebês em risco.

A prevenção de alergias alimentares evoluiu significativamente nas últimas décadas. Estratégias que antes priorizavam a evitação de alérgenos agora recomendam a introdução precoce e controlada, especialmente em crianças de alto risco.

Evolução das Recomendações de Introdução Alimentar

Até o início dos anos 2000, a orientação predominante era a evitação prolongada de alimentos potencialmente alergênicos, especialmente em crianças com histórico familiar de atopia. Estudos recentes, como o LEAP Study, reverteram essa prática ao demonstrar que a introdução precoce de amendoim reduziu em 81% o risco de alergia alimentar em crianças de alto risco (1).

Hoje, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) orienta a introdução de alimentos potencialmente alergênicos a partir dos 6 meses de idade, sem restrições desnecessárias, inclusive em crianças com risco aumentado para alergias (2).

Amamentação e Janela Imunológica

O aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida permanece como a primeira estratégia preventiva contra alergias alimentares. O leite materno contém fatores imunomoduladores que ajudam no desenvolvimento da tolerância oral (3).

A janela imunológica entre os 4 e 11 meses é considerada um período crítico para a introdução de alimentos potencialmente alergênicos, promovendo a tolerância ao invés da sensibilização (4).

👉 A exposição controlada a alérgenos durante a janela imunológica pode determinar a tolerância ou a sensibilização por toda a vida.

Protocolos Atuais para Introdução Alimentar

Os protocolos atuais para crianças sem risco aumentado recomendam:

  • Introdução alimentar aos 6 meses, incluindo alimentos alergênicos.
  • Oferecer alimentos em pequenas quantidades inicialmente.
  • Introduzir um alimento novo a cada 2-3 dias para facilitar a identificação de reações.

Para crianças de alto risco:

  • Avaliação prévia por especialista.
  • Introdução supervisionada de alimentos como amendoim, ovo e peixe.
  • Monitoramento rigoroso após a introdução inicial.

Fatores Nutricionais na Prevenção de Alergias

Além do timing da introdução alimentar, alguns nutrientes exercem papel protetor:

  • Vitamina D: Níveis adequados durante a gestação e a infância estão associados à menor prevalência de alergias (5).
  • Ômega-3: O consumo regular de peixes antes do primeiro ano de vida reduz em 24% o risco de sensibilização alérgica (6).
  • Diversidade Alimentar: Expor a criança a uma variedade de alimentos no primeiro ano está associado à menor prevalência de alergias e asma (7).

Perspectivas Futuras e Intervenções Personalizadas

A pesquisa atual aponta para a personalização das estratégias preventivas, considerando fatores genéticos e ambientais.

  • Microbiota Intestinal: Probióticos durante a gestação e lactação podem promover a tolerância alimentar, mas ainda não existem recomendações definitivas (8).
  • Teste de Biomarcadores: Estudos futuros podem identificar crianças em risco antes mesmo da introdução alimentar.

🧬 O que aprendemos hoje?

  • A introdução precoce e controlada de alimentos potencialmente alergênicos, entre 4 e 11 meses, pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de alergias alimentares, especialmente em crianças de alto risco.
  • O aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e a diversidade alimentar no primeiro ano de vida são estratégias fundamentais para promover a tolerância imunológica.
  • Fatores nutricionais como níveis adequados de vitamina D e consumo de ômega-3, além da personalização baseada em microbiota e risco genético, representam caminhos promissores para a prevenção futura.

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📚 Referências Bibliográficas

  1. Du Toit G, Roberts G, Sayre PH, et al. Randomized trial of peanut consumption in infants at risk for peanut allergy. N Engl J Med. 2015;372(9):803-13.
  2. Solé D, Silva LR, Rosário Filho NA, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: Parte 2 – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Arq Asma Alerg Imunol. 2018;2(1):39-82.
  3. Lodge CJ, Tan DJ, Lau MX, et al. Breastfeeding and asthma and allergies: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015;104(467):38-53.
  4. Perkin MR, Logan K, Tseng A, et al. Randomized trial of introduction of allergenic foods in breast-fed infants. N Engl J Med. 2016;374(18):1733-43.
  5. Yepes-Nuñez JJ, Brożek JL, Fiocchi A, et al. Vitamin D supplementation in primary allergy prevention: systematic review. Allergy. 2018;73(1):37-49.
  6. Kull I, Bergström A, Lilja G, et al. Fish consumption during the first year of life and development of allergic diseases during childhood. Allergy. 2006;61(8):1009-15.
  7. Roduit C, Frei R, Depner M, et al. Increased food diversity in the first year of life is inversely associated with allergic diseases. J Allergy Clin Immunol. 2014;133(4):1056-64.
  8. Garcia-Larsen V, Ierodiakonou D, Jarrold K, et al. Diet during pregnancy and infancy and risk of allergic or autoimmune disease: a systematic review and meta-analysis. PLoS Med. 2018;15(2):e1002507.